domingo, 30 de junho de 2013

Bom dia, boa tarde e boa noite queridx visitante! A Vulva de hoje vem soltar oscachorro, então se prepare para desabafo, confusão e gritaria. Nosso post de hoje é uma cartinha para o Feliciano. Como não sabemos qual é a caixa postal do dito cujo, enviamos por aqui na esperança de que ele leia.

Caro Feliciano,

Aliás, caro não que eu to bolada contigo.

Feliciano,
Tudo bom com você? Não me importo com a resposta. Aqui quem vos escreve é Vulva Fúcsia, blog/programa sobre sexualidade e comportamento. Estamos no facebook, no twitter, temos um blog e vendemos Yakult em casa de família. Estamos escrevendo pra poder bater um papinho contigo.

Queridõam, CURA GAY? Maquemerda é essa? Você despirocou de vez, ou tomou ácido demais? Gata sai dessa onda, que tá perigosa.

Primeiro a gente queria perguntar se você sabe que a homossexualidade não é mais considerada doença. Você sabe que desde a década de 1970 as organizações de psiquiatria, psicologia e de saúde em geral vem retirando a homossexualidade da lista de distúrbios ou doenças né? Porque, tipo, essa informação é básica pra gente começar esse fuzuê.

Você sabe. Tá até na Wikipédia, você tem que saber. Prefiro acreditar que você sabe, porque ser tão ignorante sobre esse assunto, já que você o colocou em pauta na comissão de direitos humanos, seria imperdoável.

Ok, passamos pelo ponto 1. Você sabe que não existe base científica para nenhum tratamento de reversão da homossexualidade. Aliás, você sabe que psicologia é uma ciência né? Você sabe que ciência e religião são coisas distintas, não sabe? Então, se psicologia é uma ciência, e não existe base científica para cura gay, porque diabos você acha que os psicólogos devem curar gays?

ImageToda ciência é acompanhada de uma vasta produção científica. Na medicina, pra você desenvolver um novo tratamento tem que fazer um estudo completo, analisar todos os aspectos, colocar pra debate, o conselho de medicina tem que analisar e aprovar tudo e blá blá blá. Magina se um médico surge do nada e diz que tem um tratamento pro câncer que envolve misturar abacate com óleo de babosa, uma pitada de coentro e 2 gotas de pimenta dedo de moça? E aí ele começa a tratar as pessoas que tem câncer com essa receita. Na hora todos nós o chamaríamos de charlatão, num é? Porque é isso que ele seria! Ele fez um estudo que levasse em conta o que já foi descoberto sobre o câncer? Ele se preocupou em analisar outros estudos para que pudesse desenvolver um novo tratamento? Ele fez experimentos para confirmar se existe alguma porcentagem de eficácia no tratamento dele? Neca de pitibiriba.

E por que na psicologia seria diferente? Pense você num psicólogo. Aí esse psicólogo acha que desenvolveu um novo tratamento para a depressão. Ele desenvolveu uma técnica que junta deixar a pessoa trancada com 10 gatos, 5 cachorros e 3 galinhas por 5 horas, uma vez por semana, ouvindo o cd da Anitta. Ele jura de pés juntos que o tratamento da certo, e começa a atender pessoas que sofrem de depressão e a trata-las dessa maneira. Você acharia errado que o Conselho de Psicologia intervisse e proibisse que esse psicólogo tratasse pessoas assim? Tenho certeza que não.

“Ah, Vulva, mas se a pessoa quis ser tratada com aquele cara mesmo sabendo que o tratamento dele é assim, então tem que deixar!” Você é só imbecil ou é imbecil e idiota? Uma pessoa que procura um psicólogo está, em certo ponto, abalada emocionalmente ou psicologicamente. Essa pessoa quer ajuda. O que lhe oferecerem talvez ela aceite, porque o que lhe importa é acabar com o sofrimento psíquico que está passando. Essa pessoa merece ser atendida por alguém que saiba o que está fazendo, que respeite um código de ética que foi construído por psicólogos, por alguém que tenha responsabilidade com o tratamento que dispensa aos seus pacientes.

Trazendo tudo isso pro nosso papo, eu sei que existem pessoas que procuram psicólogos pois sofrem por serem gays. Isso é um fato, e nenhum psicólogo pode se negar a atender qualquer pessoa (isso também tá no código de ética). O que esse psicólogo não pode é propor um tratamento para a homossexualidade pois ela não é doença. Esse psicólogo pode sim tratar essa pessoa, ajudando-lhe a compreender seus desejos, a compreender as pressões sociais que sofremos, sem nenhum tipo de julgamento moral. Se o psicólogo acha que ser homossexual é errado, esse seu pensamento não pode impregnar sua prática. Ele precisa tratar a pessoa para que ela supere seus sofrimentos, compreenda seus sentimentos.

Enfim, seu Feliciano, a gente tá puta contigo. Achamos isso uma puta falta de sacanagem! Você sabe o sofrimento que esse tipo de tratamento pode causar nas pessoas? Você ficou sabendo que esses dias a fundação Exodus (uma que promovia tratamentos de reversão da homossexualidade) lá dos states fechou as portas, e seu principal fundador informou que durante os 40 anos de funcionamento da fundação ele JAMAIS deixou de sentir desejo por pessoas do mesmo sexo? Ele até pediu desculpas à todas as pessoas que sofreram por conta dos tratamentos, admitindo que ninguém deixa de ser gay.
O que você quer, Feliciano, é que as pessoas reprimam seu desejo. Você sabe que não tem como uma pessoa gay deixar de sentir desejo por pessoas do mesmo sexo, mas você quer que elas escondam isso delas mesmo. Que elas se casem, tenham filhos, pra alimentar a tal família tradicional que você jura que ainda existe. E tudo isso por que? Porque é o que você acredita que o seu Deus quer. E aí você quer conseguir isso com uma lei, num Estado (que deveria ser) laico. Puta que pariu hein?

Esperamos que você acorde amanhã, olhe pro céu e seja acometido por uma enorme dor de barriga a ponto de deixar seu cu assado, pra ver se você para de se preocupar com o cu dos outros.

Passar bem.
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Aliás, passar muito mal!



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